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            Talvez tudo o que eu tenha escrito seja ciúme do livro. Talvez o que Roberto Schmitt-Prym faça seja por ciúme da fotografia. São colagens que investigam a textura e o olhar, retrabalhando detalhes, impondo movimentos, incorporando digitais nas paisagens como se o dedo girasse com a imponência de uma íris. Igrejas, museus, prédios públicos, há uma interferência testemunhal, cromática, que torna a imagem uma aparição, um vulto fantasmagórico pedindo atenção.

            “Cenários da memória” representa uma sismografia de nossas emoções. Captura a sequência de sonhos entre uma fotografia e outra. Ou o estado psicológico do observador. As cores azul e cinza indicam frieza, a vermelha e a amarela sinalizam quentura. A profundidade é de desenho, a velocidade é da sombra.

            Schmitt-Prym tem inveja. Uma profana inveja que queima nossos cílios para enxergarmos sem defesa.


            Fabrício Carpinejar, escritor